O Brasil perdeu o rumo
Na questão da segurança,
Morre jovem, morre idoso,
Morre até uma criança,
Qualquer dia vai morrer,
Inclusive, a esperança.
Não tem mais a aliança
Entre a paz e o brasileiro,
Numa rua, numa esquina,
Um ataque é corriqueiro
E num banco ou na farmácia
O perigo é verdadeiro.
O país já foi canteiro
De sossego e liberdade,
De progresso, de trabalho
E também tranquilidade,
Hoje apenas é um palco
Onde a paz é só saudade.
Vou narrar essa verdade
Nos meus versos de cordel,
Desenhando a violência
Numa tela sem pincel,
E no fim vocês vão ler
A desgraça num painel.
Falo feito um menestrel
Afogado na tristeza
Com o tédio que levou
A nação para incerteza,
Uma pátria tão feliz
Que perdeu sua nobreza.
Hoje a nossa natureza
É viver todo tormento
Num lugar muito inseguro
E deveras violento,
Na cidade e na fazenda
Só se encontra sofrimento.
Não é só deste momento
A tragédia nacional,
Já que há tempo a gente vê
O terror ser tão fatal,
Basta ter televisão,
E assistir telejornal.
Lá é muito natural
Você ver atrocidade,
Ver o trânsito matar,
Tão voraz, sem piedade,
Em qualquer situação
Na BR ou na cidade.
A TV, sem falsidade,
Cumpre a mais dura missão
Quando vem nos informar
Uma fuga da prisão,
É o mesmo que avisar
Da matança ao cidadão.
Não é só arma na mão
Que previne alguém morrer
De um assalto de um bandido
Que não tem o que perder,
No Brasil não há costume
De saber se defender.
Quero aqui esclarecer
O problema cultural
Nesse drama tão cruel
De massacre social,
Num país que tem problemas
Do mais simples ao letal.
É pra mim fundamental,
E também prioridade,
Investir na educação
Contra a marginalidade,
Educando e dando emprego
Se combate essa maldade.
Acho que a impunidade
É também nossa agonia,
A balança da justiça
Mais parece alegoria,
Nossas leis estão bem velhas
E só dão melancolia.
A sentença é fantasia
Passageira e muito breve,
Se algum dia foi pesada
Logo após se torna leve
E um bandido que a sofreu
Nunca cumpre o que ele deve.
Já que tem quem o releve
A um cidadão comum,
Ele assalta, pune e mata,
Sem sofrer remorso algum,
Pois sabendo que não paga,
Atormenta qualquer um.
Não aceito em modo algum,
Pois não sou um complacente,
Esse Código Penal
Tão arcaico e displicente,
Que atrasado e sem punir
Já não serve atualmente.
É a lei que infelizmente
Facilita o infrator,
E eu comento lamentando
Pois vivemos num terror
De um Estado obsoleto
Sem controle desse horror.
O combate a essa dor
Deve vir nas eleições,
Já que é na democracia
Que se geram decisões
E se escolhe com um voto
As melhores vocações.
Já vi guerra nas nações
Dizimar gente demais,
Destruir economias
E causar danos morais
Pra depois a paz voltar
E outra vez serem normais.
No Brasil parece mais
Que isso não vai retornar
Pois aqui morre mais gente
Do que algum outro lugar
Na tenaz guerra civil
Que não quer mais acabar.
Ontem vi isso passar
No soluço da senhora
Que o marido foi roubado
Na calçada de onde mora,
E o larápio insatisfeito,
Deu-lhe um tiro nessa hora.
Eu não sei o que vigora
Numa mente que assassina...
Uma mãe vi soluçar,
Ao velar sua menina
Que assaltada na avenida,
Teve a morte em sua sina.
Uma vida que termina
Dessa forma tão chocante
Num assalto à mão armada,
No país está constante,
O assaltante é um juiz
Que condena a todo instante.
A tragédia vem durante
Uma simples decisão
Do bandido já drogado
Pelo mal sem compaixão,
E ao matar seu escolhido
Deu a pena a um irmão.
Numa certa ocasião
Foi um pai que eu vi chorar
No velório do seu filho
Quando ouvi seu lamentar,
Um rapaz que faleceu
Ao sair pra trabalhar.
Confundido ao carregar
Pro trabalho um instrumento,
Ele ali foi metralhado
E morreu nesse momento,
Para o pai o que restou
Foi o luto e o sofrimento.
No seu triste pensamento
Quem devia proteger
Seu rebento falecido
Foi quem fez o seu sofrer,
Pôs seu filho num caixão
E também lhe fez morrer.
Um horrível padecer
No Brasil é costumeiro
Ao se ver uma mulher
Morta pelo companheiro,
Ciumento e possessivo,
Violento e cachaceiro.
Muitas vezes cavalheiro
Que jurou amor total
E que o tempo então mostrou
Que era só um marginal,
Um facínora macabro,
Delinquente e anormal.
Nesse drama crucial
Que acontece na nação,
O meu pai já me avisava
Que teria essa explosão,
Já que o tráfico comanda
E não tem a repressão.
A qualquer contravenção
Deveria haver combate
Rigoroso e repressivo
Provocando o seu abate,
Com real investimento,
Com projeto e com debate.
Se drogar é o xeque-mate
Que deixou tudo perdido,
Traficar um armamento
Também traz seu alarido
E a fatal corrupção
Contribui com seu latido.
Traficante até detido
Continua comandando
Com as ordens acatadas
Dando as provas do comando,
E o governo, simplesmente,
Permanece observando.
É tão forte esse desmando
Que essa praga se espalhou
Nas prisões desta nação
Onde o mal se confirmou,
Com poder, a fortaleza,
Em Poder se transformou.
E quem foi que governou
Essa vil realidade?
Foi o povo que elegeu
O pior em qualidade?
Ou aqui tudo implodiu
Sem valor e sem vontade?
As respostas pra verdade
Que corrói atualmente,
São difíceis de dizer
Mas estão na nossa frente,
E a batalha ao contrabando
Tem que haver constantemente.
Não é fato do presente
A polícia sem preparo
Sem ter arma ou munição
Pois aqui tudo é mais caro,
É um quadro vicioso
Onde investimento é raro.
É notório o despreparo
Em achar a solução
Num lugar sem ter respeito
E onde tudo é maldição,
Até postos de saúde
São roubados sem razão.
Eu vi num feriadão
Que do posto estropiado
Carregaram os remédios
E um televisor usado,
As cadeiras, um birô
E um relógio até quebrado.
Uma creche tinha ao lado,
Lá roubaram a merenda...
E eu pergunto ao meu leitor:
É país que alguém entenda?
Um lugar sem ter moral
Que não tem quem compreenda.
Não existe quem desvenda
Um mistério impressionante,
O da tal bala perdida
Toda hora e todo instante,
Mata mais que muito mal
Na nação agonizante.
Acharia interessante
Assistir em algum dia
Um noticiário ao vivo
Em que morte não havia,
Mas eu sinto com pavor,
Que o que eu tenho é nostalgia.
Essa catalepsia
Que hoje eu trago no meu peito,
Vou levar sempre comigo
Como um choque de despeito,
Sem virtude, sem noção,
Sem justiça e sem Direito.
E eu encerro a contrafeito
Esse meu triste poema
Onde a violência foi
Meu assunto e o meu tema,
Mas confesso não querer
Falar mais desse dilema.
Um governo tem esquema,
Governante e tem um dono
Que o elege e lhe autoriza
A seguir sendo o patrono,
Esse dono é o eleitor
Que hoje está num abandono.
Nosso povo perde o sono,
Não consegue mais dormir,
Só olhando insegurança
Qualquer hora vir surgir,
O Brasil não tem mais jeito,
Sinto muito, ao concluir.
Quero enfim me despedir
Carregando essa pobreza
De ser de uma geração
Que sofreu muita incerteza
De não ter como vencer
Essa enorme malvadeza.
De não ter uma proeza
Numa vara de condão
Que transforme este país
No país da solução,
Que devolva pras pessoas
Sua paz e a redenção.